terça-feira, 19 de novembro de 2019

QUE GIRO!

Uma das primeiras coisas que escuto de qualquer brasileiro que acaba de chegar a Portugal, é como os portugueses são engraçados ao falar. E para designar as coisas usam umas palavras que não têm nada a ver, dizem. Podem não ter nada a ver com a opinião de quem faz essa observação, o que não significa que não tenham nada a ver com o que designam. Na condição de artífice (ainda que medíocre, no sentido de médio, no expert) das palavras, pus-me a pensar e a fazer uma comparação entre os nomes das coisas em Portugal e no Brasil. E descobri que algumas fazem muito mais sentido em português de Portugal. Senão, vejamos: AÇOUGUE e TALHO. Você sabe mesmo o que quer dizer “açougue”? Conhece a etimologia da palavra, a sua origem? (esqueça a imagem que lhe vem à memória quando a ouve, pense só na palavra em si). Já “talho” vem de talhar, cortar. Faz muito mais sentido, porque é isso que se faz com a carne no açougue. Outra: BALA e REBUÇADO. O que é “bala”? Quantas coisas designa essa palavra? Manda bala (vai em frente, corre...), bala de revólver, bala de canhão... Ou seja, para ser apenas uma ingênua palavra que designe uma guloseima, no Brasil a palavra precisa de um contexto. Em Portugal não: rebuçado não designa nenhuma outra coisa que não seja isso. BANHEIRO e CASA DE BANHO. Não sei porquê acham essa expressão tão engraçada. Devíamos rir também, então, quando ouvimos alguém dizer que vai ao “banheiro”, uma vez que a raiz das duas palavras é a mesma: banho. Sendo que em português de Portugal faz muito mais sentido: é a casa (no Brasil às vezes dizemos até “vou na casinha”) onde se toma banho. E se pensarmos no americanizado WC, então nem se compara ”Water Closet”, que numa tradução literal é um “gabinete de água”. Esses americanos, viu, são uns parvos! CARTEIRA DE IDENTIDADE e BILHETE DE IDENTIDADE. Quando a polícia te pede a identidade o que você faz? Tira a sua carteira do bolso e entrega para o guarda? Claro que não., você abre a carteira e pega de lá o seu...bilhete de identidade. Nem preciso argumentar muito. Próxima: CONVERSÍVEL e DESCAPOTÁVEL. Parece difícil defender essa, não? Mas é fácil. Literalmente, conversível é algo que se pode “converter” em outra coisa. Mas, quando você tira a “capota” de um carro ele continua sendo um carro. Não vira um caminhão, ou uma carroça. Portanto, você “descapota” o carro. FAIXA DE PEDESTRES e PASSADEIRA. “Faixa”??? Como assim, faixa? De miss? De karatê? De comício? Novamente a necessidade de um contexto. Já “passadeira” designa apenas o lugar onde se passa, no caso, onde o pedestre passa. PONTO DE ÔNIBUS e PARAGEM (nem vou falar de ônibus e autocarro). Paragem, óbvio, dá de dez a zero em ponto de ônibus. Primeiro é uma palavra só – que diz exatamente o que precisa ser dito. Segundo, serve para todos os tipos de transporte, embora tenhamos outras, como estação, por exemplo, mais usada nos casos de paragens de metro e trem, ou melhor, comboio. Na próxima vez que um brazuca provocar meu lado tuga, vou dizer apenas: “ó pá, vai chatear o Camões”. Ops! expressões fixe é assunto para outro post.

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