sexta-feira, 18 de junho de 2010

Decadence sans elégance

Um amigo, publicitário de fina estampa, dos "antigos" como gostam de dizer alguns, dia desses me expôs sua indignação com o que ele – elegante como é – chamou de falta de elegância das pessoas. Um fenômeno atual e crônico.

Referia-se a recados que deixava e para os quais jamais obtinha retorno, a pessoas que não agradecem uma gentileza no trânsito, às que se atrasam para uma reunião e não ligam avisando – pior: simplesmente não aparecem e ligam no dia seguinte com uma desculpa qualquer, e por aí vai.

Depois de seu desabafo, passei a prestar mais atenção em mim e nos outros, e não somente confirmei suas observações, como passei a me perguntar o que estaria acontecendo conosco?

– Porquê marcamos encontros aos quais temos quase certeza de que não podemos (ou não queremos) comparecer?
– Porquê marcamos almoços e desmarcamos meia hora antes, quando o convidado ou anfitrião já está nos aguardando entretido com o couvert?
– Porquê dizemos que precisamos muito falar com alguém, esse alguém reserva um tempo (precioso) da sua agenda para nós, e simplesmente não aparecemos na hora ou na data combinada?
– Porquê marcamos um bate papo com um amigo e ele não aparece porque não ligamos para confirmar - por acaso já não estava confirmado desde que foi marcado?
– Porquê deixamos para desmarcar uma consulta minutos antes dela acontecer (quando o fazemos), de forma que o médico não consegue mais encaixar outro paciente que talvez precisasse mais do que nós dessa consulta?
– Porquê a recepcionista marca nosssa consulta para as 9h00, se sabe que o médico não irá nos atender antes das 10h00?
– Porquê fazemos das tripas o coração para chegar no horário marcado com o cliente, e temos de esperar quarenta minutos para ser atendidos por ele?

Nos últimos sessenta dias vivi todas essas experiências. Ora como agente, ora como vítima.

Como disse meu amigo, perdemos a elegância. Perdemos a referência do compromisso, das boas maneiras, do respeito pelo outro e pelo tempo do outro, que obviamente não nos pertence. Com isso diminuimos a confiança, o respeito e o apreço que os demais possam ter por nós. E por último, degradamos as relações.

Penso que essas coisas acontecem por várias razões, mas as mais alegadas - falta de tempo ou trânsito ruim - não são as principais. O fato é que só damos verdadeiramente atenção aquilo que é prioritário. Mas respeito e elegância deveriam estar no topo da lista, certo?

(sobre o assunto, recomendo fortemente a leitura do texto "avec elegance" da talentosa e elegantíssima gaúcha Martha Medeiros, em http://www.slideshare.net/cab3032/426-avec-elegance-martha-medeiros. E a trilha sonora, claro, não poderia ser outra http://letras.terra.com.br/lobao/446178/)