terça-feira, 19 de novembro de 2019
QUEM QUER QUENTES E BOAS? QUENTINHAS!
Dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho!
“Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor pra casa”
Os versos que “cantam” O Homem das Castanhas, a apregoar o seu produto nas esquinas da cidade, eternizados na voz de Carlos do Carmo, é uma das marcas do outono em Portugal, onde a 11 de novembro se comemora o dia de São Martinho. A fumaça branca que se desprende dos assadores em centenas de esquinas em Lisboa, anuncia: habemus castanha assada!
Diz a lenda que um nobre cavaleiro romano andava a fazer a ronda quando viu um velho mendigo cheio de fome e de frio, porque estava quase nu. O dia estava chuvoso e o velhinho encharcado. O cavaleiro, chamado Martinho, era bondoso e gostava de ajudar os pobres. Então, ao ver aquele mendigo, ficou cheio de pena e cortou a sua grossa capa ao meio, com a espada. Depois deu a metade da capa ao mendigo e partiu. Passado algum tempo a chuva parou e apareceu no céu um lindo sol que durou três dias.
Lenda ou não o fato é que nestes próximos três dias (hoje por acaso um sol lindo entrou no nosso quarto logo pela manhã) não só Lisboa, mas muitas outras cidades, são tomadas pelos magustos e pelas festas da castanha, só comparáveis às festas da sardinha no mês de junho.
O cheiro das castanhas assadas, especialmente pra mim, traz de volta deliciosas recordações de infância, quando me juntava aos mais velhos da aldeia e junto com eles íamos para debaixo dos castanheiros de Chacim, devidamente acompanhados de dois ou três garrafões de vinho (feito em casa, óbvio, de primeira prova) e fazíamos uma grande fogueira, cuja base forrávamos com as castanhas recolhidas ali mesmo no chão, algumas retiradas ainda de dentro dos ouriços. Quando da fogueira restavam apenas cinzas e de nós pouco mais do que isso, com os garrafões já pela metade, afastávamos as cinzas e devorávamos as castanhas macias e quentinhas, acompanhadas pelo vinho que ainda restasse. A cerimônia durava o dia inteiro. A outra imagem que não se apaga é a de meia dúzia de borrachos, cantando enrolado e dançando abraçados uns aos outros (para não cairmos, óbvio), no caminho de volta pra casa no no final do dia.
Durante todo o outono a sartã (frigideira em português) toda furadinha embaixo e cheia de castanhas a assar, suspensa sobre as brasas do lume feito no chão, fazia parte então das nossas noites, reunindo na cozinha de casa – a taberna da Carolina – os melhores amigos da família.
Hmmm...quem as quer quentes e boas, quentinhas?
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