sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Mais respeito com as palavras!

Dia desses, minha filha menor, Sofia (sabedoria...) de 8 anos, disparou do nada: – Paiê, cê já reparou que quando a gente repete, repete, repete muuuiiito uma palavra, ela perde o sentido? Referia-se a uma brincadeira que ela sempre faz, uma repetição repetida (!) bem rápido tipo "travesseiro travesseiro travesseiro travesseiro travesseiro travesseiro..." depois de um tempo o cérebro realmente não encontra mais significado para esse amontoado de letras.

Brincadeira à parte, a observação da Sofia me lembrou outra coisa que sempre me chamou a atenção: o (ab)uso indiscriminado de algumas palavras ou expressões rouba-lhes realmente o significado. Por exemplo, a palavra URGENTE, antigamente significava que alguma coisa urgia, e que se não fosse resolvida com presteza, o desastre seria iminente. Pois bem, hoje, urgente, não significa quase nada, porque tudo é urgente. Repare onde você trabalha a pilha de assuntos urgentes que todo mundo tem pra resolver em cima da mesa, quando não na gaveta. O chefe quer falar com você urgente! O cliente vai viajar e precisa disso urgente (é incrível como um trabalho urgente vem sempre acompanhado de um cliente que vai viajar).

MASTER, o que significa master? Antigamente, master era o máximo. Hoje, pode ser o básico, salto baixo, sem jóias. Qualquer plano de saúde, categoria de sócio, assinatura de tv a cabo, é master. Agora, quando oferece um pouquinho mais, aí já é PLUS! Master Plus então, nem se fala... é quase nada. ESPECIAL, coitado, já virou sinônimo de piada, de tanto ser usado para adjetivar o cliente e começar o texto das malas diretas.

VOSSA EXCELÊNCIA antigamente significava a mais alta expressão de estima e consideração. E hoje? Bem, se for proferida da tribuna de uma das casas do Congresso em Brasília, pode significar desde calhorda, até safado, corrupto, traidor, sem vergonha ou ladrão, para ficarmos nos significados mais leves.

Mas a falta de respeito e de significado também atinge as expressões.

Por exemplo, antigamente (aliás ANTIGAMENTE também é meio difuso, não? antigamente quando? mês passado, ano passado, século passado?), mas continuando, antigamente quando você chegava atrasado a uma reunião e dizia: GENTE, PEGUEI O MAIOR TRÂNSITO! significava que naquele dia o caminho que você sempre faz estava especialmente ruim, alguma coisa grave aconteceu, a quantidade de carros na rua foi surpreendente. Hoje "gente, peguei o maior trânsito" significa apenas que você não se deu ao trabalho de arrumar uma desculpa melhor. Ou então que acordou tarde, que não está nem aí com os horários dos seus compromissos e que a sua falta de respeito não é somente com as palavras, mas também com o tempo e a inteligência dos demais. Nessas horas, o melhor é chegar, entrar de fininho na reunião, sentar de boquinha fechada e no final pedir desculpas, simplesmente, pelo atraso.

A propaganda – de onde eu tiro meu sustento, pra quem não sabe – o marketing direto, o telemarketing, a promoção e assemelhados, também têm culpa no cartório. VOCÊ É MUITO ESPECIAL PARA NÓS significa que vão te deixar esperando na linha pelo menos uns dez minutos. NOVO não significa, necessariamente, que você nunca viu antes. GRÁTIS não quer dizer que não vai custar nada. MEU SENHOR... assim com reticências e tudo, significa que o seu interlocutor está perdendo a paciência e fazendo um esforço danado para parecer gentil e educado.

Bem, a lista pode ser maior se você me ajudar e postar o seu comentário com outras palavras e expressões que perderam o sentido e o significado. Enquanto isso vou discutindo o assunto com a Sofia.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Biosfera interna

Todos os anos no plenilúnio de maio os membros Cafh (caminho espiritual do qual participo desde 1974 e imã que norteia o ponteiro de minha bússola pessoal – para saber mais: www.cafh.org) se reúnem em Assembléia Geral, em algum lugar do planeta. No encontro o Diretor Espiritual mundial de Cafh faz duas alocuções aos participantes, uma na abertura e outra no encerramento.

Ano passado, no encerramento, ele transmitiu uma mensagem muito interessante, que eu gostaria de dividir com você. Fala sobre a necessidade de – paralelamente aos nossos esforços para cuidar do meio ambiente exterior – prestarmos atenção ao nosso meio ambiente interior. Ali onde também há poluição, desperdício de recursos não renováveis (tempo, por exemplo) e do qual precisamos cuidar para benefício próprio e, principalmente, dos demais.


Não vou reproduzir a alocução inteira, por
ser extensa. Ficarei apenas nos pontos principais que giram em torno dessa idéia. Para facilitar o entendimento de algumas expressões, introduzi algumas notas de rodapé. Apreciaria seus comentários.


Cuidemos do nosso meio ambiente interior
Extrato da palestra de José Luis Kutscherauer – Diretor Espiritual de Cafh(1), no encerramento da Assembléia Anual de Cafh, realizada em Mendoza, AR, em junho de 2007.


“Nos últimos anos tomamos consciência dos problemas que afetam o planeta e dos efeitos que nossas ações provocam na biosfera. Como conseqüência, ecologia e meio ambiente se converteram em palavras habituais. Poderíamos dizer que em apenas duas gerações se criou uma consciência global de que é nossa responsabilidade cuidar da Terra – a casa que compartilhamos. Cada vez mais aparecem os chamados de alerta sobre aquecimento global, camada de ozônio, poluição do ar e dos rios, convocando-nos a cuidar de recursos como o ar, a água, as matas, a terra, as espécies animais.

Sem dúvida, temos que estar atentos a todos esses elementos para amenizar os efeitos negativos que produzimos. Por maiores e mais complexas que pareçam as dificuldades que enfrentamos, cresce dia-a-dia o interesse e o compromisso na busca de soluções viáveis, imediatas, simples e efetivas.

Porém, como membros de Cafh, compreendemos que temos muito mais para cuidar, já que trabalhar para minimizar o impacto que produzimos no meio ambiente não encerra nossa tarefa.

Voltemos o olhar também para o nosso meio ambiente interior.

Para poder realizar a mudança que desejamos, comecemos por transformar nosso mundo interior, construindo um ambiente harmônico que nos converta em seres humanos integrais. É nesse meio interior que temos de começar a tarefa.

Dizem que cada pessoa é um mundo. E assim é: cada um de nós é um mundo, com um modo de viver próprio e que deriva de nossa condição humana e do tipo de ambiente no qual habitamos. A condição humana conforma um marco dentro do qual nos desenvolvemos. O ambiente em que vivemos – tanto interior como exterior – é a variável sobre a qual podemos atuar para conformar a biosfera espiritual que queremos que nos contenha.

Ao tomar consciência de que somos portadores de um meio ambiente interior e que este incide sobre os demais, também tomamos consciência de que temos que protegê-lo e cuidar do seu equilíbrio. Assim, compreender – entender e atuar em conseqüência – nos leva a comprometer-nos com essa biosfera interna, espiritual, vulnerável, sutil, porém fundamental para desenvolver-nos como seres humanos integrais.

Por sermos livres e termos a faculdade de escolher, podemos transformar um deserto em um vale fértil e um vale fértil em deserto, purificar o ar multiplicando bosques ou fazê-lo irrespirável desmatando-os, manter as águas claras e cristalinas ou transformá-las em um fedorento lodaçal.

A mesma coisa acontece em nosso meio ambiente interior.

Somos depositários de imensos tesouros que temos que cuidar, potencializar e repartir. Devemos perguntar-nos quais são os bens que queremos deixar como herança para a humanidade. Especialmente, devemos recordar que dentro de nós também existem recursos não renováveis pelos quais temos que responder: o uso do tempo, as energias vitais, o potencial mental e afetivo, tudo está em nossas mãos, sob nosso cuidado, para utilizar e dispor.

Pensemos, por exemplo, no ecossistema constituído por nossos pensamentos. Protejamos esta fonte de vida que é a nossa mente. Ponhamos nossa inteligência a serviço do bem comum, já que entre todos constituímos o corpo da humanidade.

Pensemos ainda no ecossistema constituído por nossos sentimentos e aspirações. Protejamos nosso meio interior para que albergue sentimentos de amor, de compaixão, de compreensão e amizade.

O estudo da ecologia nos ensina a observar as relações sistêmicas entre os indivíduos e o meio ambiente e a perceber que, para manter o equilíbrio, é indispensável a interdependência, já que cada parte ocupa o lugar que lhe corresponde e realiza uma função determinada, contribuindo para o equilíbrio do todo maior.

Necessitamos dar espaço a esta atitude – de interdependência – para que conscientemente unidos cumpramos a nossa missão na Grande Obra (2).

Através de um processo de desenvolvimento da consciência, descobrimos a estreita inter-relação entre todo o existente. Por que, então, na prática atuamos muitas vezes como se vivêssemos de forma autônoma? Pode ser que temamos o poder coercitivo de quem quer impor-se ou submeter-nos. Pode ser que temamos que o viver em função do todo anule a nossa individualidade.

Seja como for, compreendamos que não podemos deixar de pertencer ao todo, porque somos parte integrante dele. O individualismo segrega, porque é contrario à lei da vida que conduz para a integração, para a união. Em nossa ignorância, o que tentamos fazer é negar-nos esse pertencer ao todo.

Na interdependência não há imposição e ninguém deixa de ser o que é. Cada um é um individuo que não se repete, único. Quando se revela aos nossos olhos nossa realidade egoente (3), deixamos de lado temores e dúvidas, nossos esforços individuais se reforçam e, multiplicados, transformam-se em fonte de bem e adiantamento para a humanidade.

A plenitude e harmonia entre os seres humanos se dão como resultado de um processo de amadurecimento espiritual e se manifestam em discernimento, participação e ousadia para empreender a ação necessária.

Quando descobrimos os vínculos que nos unem aos nossos semelhantes, à natureza, ao meio ambiente e a todo o universo, não podemos deixar de viver com um sentido de reverência que impregna toda nossa vida. De maneira natural, aprendemos a respeitar a individualidade de outros, porque respeitamos nossa própria individualidade. Os recursos interiores com que contamos são um dom que recebemos para levar a cabo a finalidade última da vida: a união com a Divina Mãe (4). O uso sábio e prudente destes recursos gera harmonia e paz em nosso meio ambiente interior e, em conseqüência, no entorno. A aceitação da interdependência como uma atitude essencial para viver já não é uma imposição, senão o resultado de um processo de expansão da consciência.”

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(1) Cafh – A palavra Cafh tem raízes antigas. Para os membros de Cafh, simboliza o esforço da alma para alcançar a união com Deus. Ao mesmo tempo representa a presença do divino em cada ser.

(2) A Grande Obra – Os Ensinamentos de Cafh chamam Grande Obra ao conjunto de obras materiais, intelectuais e espirituais que nós seres humanos efetuamos para realizar nosso destino, de acordo com o Plano de Evolução Universal.

(3) Egoente – Ser egoente é ser consciente de si e de nossa relação com o todo, e discernir a forma de responder à responsabilidade que implica esta consciência.

(4) Divina Mãe – Os membros de Cafh reverenciam a Deus na imagem feminina da Divina Mãe.