segunda-feira, 13 de março de 2017

É o fim!

Sou fá de rádio. Como cidadão e como profissional de publicidade. Comecei a trabalhar com 14 anos e desde então meu café da manhã sempre teve como trilha sonora as vinhetas musicais das emissoras. Uma das mais famosas é a Sinfonia Paulistana, de Billy Blanco, tema de São Paulo e do Jornal da Manhã da Jovem Pan que, aliás, ouço até hoje, intercalado com os noticiosos das rádios Estadão, CBN, BandNews e Cultura.

Quando viajo de carro uma das minhas curtições é ficar passeando pelo dial e sintonizando emissoras locais, que sempre são uma deliciosa surpresa, seja pela programação, pelos curiosos apresentadores, locutores e anunciantes, e até pela participação ao vivo dos ouvintes, com seus gostos e problemáticas regionais.
Mas, na área musical minha preferida sempre foi a Eldorado FM de São Paulo. Um exemplo de luta na defesa da boa música nacional e internacional, dos compositores, músicos e instrumentistas, dos esportes (não só o futebol, que tem defensores de sobra) e sempre à frente das grandes causas, como por exemplo as campanhas pela preservação da Mata Atlântica e da limpeza do Rio Tietê, de quem foi parceira histórica.
Minha paixão pela Eldorado era tão grande que quando fui sócio e diretor de criação da agência Merit Comunicações, e atendendo voluntariamente a Fundação S.O.S. Mata Atlântica, dei um jeito de me aproximar dos Mesquita e passei a atender também voluntariamente a Eldorado FM, para quem criei o conceito “ ELDORADO FM – A RÁDIO QUE TOCA”.
Hoje, além dos noticiosos que continuo ouvindo tanto no rádio do banheiro como nos aplicativos do celular, um dos meus redutos para curtir boa música brasileira é a Nova Brasil FM (que Deus a livre e guarde).
Assim, é com extremo pesar que leio a notícia da “morte” da rádio Estadão, cuja frequência foi vendida ou arrendada (dá no mesmo) para um grupo empresarial religioso. Recentemente a Rádio MPB FM, fundada pelo grupo O DIA e administrada pelo grupo Bandeirantes desde 2012, também saiu do ar graças a uma irreversível crise financeira.
As dificuldades de caixa têm sido a explicação para todas essas derrocadas. Mas, é bom lembrar que os problemas financeiros são só a consequência do problema. A causa real é a crise de valores nas áreas da educação e da cultura, que vão transformando o showbiz numa grande feira evangélico-sertaneja.
É um fim trágico para quem tanto fez pela cultura do país. Torço para que as poucas opções que restam para quem gosta de ouvir música, notícias e variedades no rádio, não sucumbam à riqueza dos missionários e à pobreza de espírito do mercado.