terça-feira, 11 de novembro de 2008

CARTA A OBAMA

“Sr. Barack Obama,

Antes de mais nada saiba que resisti muito em lhe escrever.

Faz quase uma semana que o senhor foi eleito presidente da nação mais poderosa do mundo e eu ainda estou pensando no que isso poderá significar – para o senhor, para a dona Michelle e as meninas, para o resto dos americanos, e para nós, o resto do mundo. Não é por falta de análises ou de opiniões, pois todos os jornalistas, políticos, economistas, historiadores e filósofos, de todas as correntes, tendências e colorações, já deram o seu vaticínio sobre os novos tempos que virão. Não serão fáceis, dizem, mas está todo mundo botando a maior fé no seu taco.

Não que a sua eleição seja pouca coisa, não. Fazer o que o senhor fez é uma proeza e tanto. Mas tem uma série de dúvidas que ficam martelando aqui na minha cabeça. Algumas coisas que, sinceramente, me deixam preocupado. E que devem estar também, se não tirando o seu sono, pelo menos fazendo-o acordar no meio da noite.

Veja: o senhor foi eleito para resolver os problemas dos Estados Unidos, certo? Mas o pessoal está esperando mesmo é que resolva os problemas do mundo. É como se o senhor tivesse sido eleito presidente do planeta. Vai ter de ir lá e resolver a parada. Consertar o estrago. E qualquer coisa menos que isso, vai ser uma decepção, um fracasso, vão dizer “não falei, foram votar nesse nêgo aí achando que ele ia ser o salvador da pátria, agora aguenta...”.

Outra coisa que temos de concordar: todos esses problemas que a gente tem hoje, essa situação que aí está – como diria um bom político, não são fruto só da cabecinha ou da vontade de um presidente – mesmo essa cabecinha sendo a do Bush, certo? Portanto, a solução também não será. Precisamos ver se, passada a euforia, o pessoal vai estar preparado para pagar o preço, que o senhor sabe, é alto.

Depois, não podemos esquecer que o senhor teve apenas 52% dos votos. Os outros 46% foram para o branquelo, amigo do Bush. E, aqui entre nós, não foram os americanos que elegeram o senhor, certo? Foram os africanos, os portoriquenhos, cubanos, mexicanos – latino-americanos em geral, os iranianos, os indianos, árabes, os muçulmanos – talvez até alguns judeus. Tá bom, tá bom, os filhos e netos deles são americanos legítimos (?). Mas, essa moçada toda, até fala inglês na escola e no trabalho, mas em casa fala a língua dos avós, come a comida dos avós, preserva a história dos avós. Esses estão vibrando com a sua vitória. Mas os outros, os branquelos, estão é morrendo de ódio. Viu a cara deles quando o McCain disse “ele era meu oponente, agora é meu presidente? ” Aquele olhar estático, nenhuma reação, nem um músculo da face movido. Eu estaria mais tranquilo se tivessem xingado o McCain, vaiado o McCain, aplaudido o McCain. Mas, nada. Só silêncio...aquele olhar vazio, perdido...

Sr. Obama, temo pelo senhor e pelas meninas, eu também tenho duas quase da mesma idade das suas, e sei a preocupação que dão. Desculpe, não quero assustá-lo, mas se eu fosse o senhor contratava logo uma meia dúzia de negões – não, negões não... vão chamar o senhor de racista. Pensando bem, se forem brancões também vão chamar, então contrata os negões mesmo, pelo menos eles têm mais tempo de carteira assinada – e colocava eles dia e noite ao lado da Sra. Obama e das meninas. Ao lado, atrás e na frente, tipo sombra mesmo que dependendo da hora do dia fica num lado diferente da gente. Afinal, por melhor que seja o seu vice (aqui em Sampa tivemos uma experiência ótima com um vice) ninguém quer ver ele sentando na sua cadeira.

E, por favor, nada de revidar os séculos de escravidão e opressão mudando o nome da Casa Branca para Casa Negra ou algo parecido. Um cara esclarecido como o senhor sabe que “Casa Branca” é apenas uma maneira de falar.

Boa sorte no seu novo emprego, Sr. Obama.”

De um admirador.

SOBRE DESENVOLVIDOS

Dia desses ouvi na CBN o finalzinho de uma entrevista do Heródoto Barbeiro com um ilustre economista catedrático da USP (pra sorte dele, ou minha – não sei, não consegui ouvir seu nome) analisando a atual crise mundial.

Dizia assim o professor: “nos Estados Unidos há 1 automóvel para cada 1,5 habitantes. No Brasil, apenas 1 para cada 7,5 habitantes. Ainda temos um longo caminho a percorrer em relação aos países mais adiantados”.

Sem entrar no mérito das estatísticas, e olhando para a delicadeza da situação ambiental e do momento histórico que atravessamos (com perdão do lugar comum), pergunto ao ilustre professor: temos um longo caminho a percorrer para chegar aonde, exatamente? E países adiantados em quê?

Me parece que é preciso começarmos a olhar para a frente, e não para trás, reconhecendo que alguns modelos estão falidos, que temos que reinventar o futuro. Afinal, o sistema que construímos nos trouxe até o abismo. Achar que temos de continuar insistindo em ter mais do mesmo, é...dar um passinho à frente.

Um automóvel por habitante...sim senhor! Brilhante, hein?