quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
PORTUGAL EM LUTO POR MAIS UMA GRANDE VOZ QUE SE VAI.
Num ano qualquer do final da década de 80, quando os grandes embaixadores da gastronomia portuguesa em São Paulo eram o casal Maria Teresa e José Batalha, fui convidado pelo meu inesquecível amigo, sócio e padrinho, André Luis Gonçalves, para jantar e assistir a um show de fado no Marquês de Marialva, o elegante restaurante do casal Batalha no bairro dos Jardins. Até hoje me pergunto como o grande fadista Carlos do Carmo, primeiro artista português a ser distinguido com o Grammy Latino de Carreira e que frequentava com intimidade os palcos do Olympia de Paris, do Ópera de Frankfurt, do Canecão do Rio de Janeiro, do Royal Albert Hall de Londres e mais algumas dezenas de grandes salas espalhadas por todas cidades do mundo, dignou-se a brindar os clientes e amigos do casal Batalha com um show tão intimista, andando em volta das mesas como se estivesse na sua sala de visitas a cantar para os amigos. A única explicação só pode ser a amizade que tinha com os donos da casa.
Não somente me deliciei com a comida, como tive o privilégio de ouvir a poucos metros, e sem microfone – que é como se canta o fado, a grande voz da canção portuguesa, autor de uma obra e de um legado somente comparáveis aos da também inesquecível Amália.
No primeiro dia de 2021, Carlos do Carmo sofreu um aneurisma na aorta e faleceu. Um ano depois de encerrar oficialmente a sua carreira, com três shows memoráveis em Braga, Porto e Lisboa, cidade onde nasceu e que (en)cantou como ninguém.
Além da lembrança daquele momento único no Marquês de Marialva em São Paulo, guardo também um LP do Carlos do Carmo, autografado pelo próprio, um dos poucos que trouxe comigo para Lisboa. Eu sei, não é nada. Apenas um pequeno troféu que me lembra o quanto devo agradecer à vida pelo muito que tem me proporcionado. R.I.P. Carlos do Carmo.
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