sábado, 1 de maio de 2010
Gente é gente, paca é paca.
Gosto de animais. Fui criado no meio de galinhas, coelhos, patos, cabritos, perús, porcos. Tive até um cavalo e um cachorro, fieis escudeiros que me acompanhavam nas disparadas pelos campos e montanhas da aldeia onde nasci. Costumava comunicar-me com eles por meio de olhares e assobios, linguagem que considero mais apropriada do que os gutchi gutchi com que tratamos hoje os nossos “pets”.
Atualmente temos dois cachorros: o Tonico, um poddle toy e o Téo, um golden retriever lindo, com um pelo dourado que reluz ao sol. Os dois chegaram em casa ainda filhotinhos (não bebês...filhotinhos).
Gosto tanto do Téo, o golden, que quando mudamos para um apartamento, em vez de confiná-lo na área de serviço abri mão da sua companhia (sob protesto do resto da família) e levei-o para morar num sitio em Campos de Jordão, sua terra natal, numa extensa área verde onde ele continua correndo, brincando e crescendo livre, como tem de ser. Tenho certeza de que o Téo me agradece por isso. Ainda nos vemos – embora não com a frequência que os dois gostaríam – e não esquecemos o que aprendemos um com o outro.
Por tudo isso, acredito ter um pouco de crédito para dar uma opinião a respeito da maneira como andamos tratando nossos animais de estimação: estamos usando os nossos cães e gatos como bibelôs, enfeites, depositários de nossas carências e da nossa incapacidade de nos relacionarmos com os parentes, amigos e muitas vezes até com maridos, esposas e filhos. Com os quais, obviamente, a relação é muito mais difícil e desafiadora. Porque gente contesta, questiona, contraria, exige mais da nossa humanidade. Não basta fazer um carinho, dar ração, levar pra passear e dar banho uma vez por semana.
Só que não adianta pensar que a solução para as nossas mazelas, as nossas decepções afetivas ou a nossa solidão, seja trocar o convívio com as pessoas pelo convivio com os animais. Ao ponto de carregar o pet no colo, beijar na boca, botar pra dormir junto na cama, comemorar o aniversário com bolo e brigadeiro e comprar sapato e roupinha de grife. Isso alimenta o "cãopitalismo" (desculpe o trocadilho infame) e enche o caixa dos fabricantes de quinquilharias, mas não resolve o nosso problema existencial, e termina por transformar os coitados dos animais em pequenas aberraçõezinhas para satisfazer o nosso ego.
Uma amiga da minha filha chegou ao cúmulo de sentar a cachorrinha dela na mesa da sala de jantar para comer junto com a família. E pior: só saíam da mesa depois que ela comia tudo ou então se cansava, o que costumava demorar, já que sendo tratada como criança ela se comportava como uma: fazia birra, queria aviãozinho e não comia qualquer coisa. E quando não era atendida levantava...ops! pulava da cadeira e ia fazer malcriação, xixi no sofá e por aí afora. Dei graças a deus quando a amizade entre a minha filha e a dona da cadela terminou.
É por essas e outras que não me incomodo quando me chamam de desalmado só porque não permito que o Tonico deite no sofá ou tire um cochilo em cima da nossa cama de casal. Afinal, gente é gente e paca é paca. Assim como cão é cão, gato é gato e todos são tudo de bom.
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