
Gosto de animais. Fui criado no meio de galinhas, coelhos, patos, cabritos, perús, porcos. Tive até um cavalo e um cachorro, fieis escudeiros que me acompanhavam nas disparadas pelos campos e montanhas da aldeia onde nasci. Costumava comunicar-me com eles por meio de olhares e assobios, linguagem que considero mais apropriada do que os gutchi gutchi com que tratamos hoje os nossos “pets”.
Atualmente temos dois cachorros: o Tonico, um poddle toy e o Téo, um golden retriever lindo, com um pelo dourado que reluz ao sol. Os dois chegaram em casa ainda filhotinhos (não bebês...filhotinhos).
Por tudo isso, acredito ter um pouco de crédito para dar uma opinião a respeito da maneira como andamos tratando nossos animais de estimação: estamos usando os nossos cães e gatos como bibelôs, enfeites, depositários de nossas carências e da nossa incapacidade de nos relacionarmos com os parentes, amigos e muitas vezes até com maridos, esposas e filhos. Com os quais, obviamente, a relação é muito mais difícil e desafiadora. Porque gente contesta, questiona, contraria, exige mais da nossa humanidade. Não basta fazer um carinho, dar ração, levar pra passear e dar banho uma vez por semana.
Só que não adianta pensar que a solução para as nossas mazelas, as nossas decepções afetivas ou a nossa solidão, seja trocar o convívio com as pessoas pelo convivio com os animais. Ao ponto de carregar o pet no colo, beijar na boca, botar pra dormir junto na cama, comemorar o aniversário com bolo e brigadeiro e comprar sapato e roupinha de grife. Isso alimenta o "cãopitalismo" (desculpe o trocadilho infame) e enche o caixa dos fabricantes de quinquilharias, mas não resolve o nosso problema existencial, e termina por transformar os coitados dos animais em pequenas aberraçõezinhas para satisfazer o nosso ego.
Uma amiga da minha filha chegou ao cúmulo de sentar a cachorrinha dela na mesa da sala de jantar para comer junto com a família. E pior: só saíam da mesa depois que ela comia tudo ou então se cansava, o que costumava demorar, já que sendo tratada como criança ela se comportava como uma: fazia birra, queria aviãozinho e não comia qualquer coisa. E quando não era atendida levantava...ops! pulava da cadeira e ia fazer malcriação, xixi no sofá e por aí afora. Dei graças a deus quando a amizade entre a minha filha e a dona da cadela terminou.
É por essas e outras que não me incomodo quando me chamam de desalmado só porque não permito que o Tonico deite no sofá ou tire um cochilo em cima da nossa cama de casal. Afinal, gente é gente e paca é paca. Assim como cão é cão, gato é gato e todos são tudo de bom.
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