quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Não é bolinho!

Já disse, mas vou dizer de novo: gosto de comer e de cozinhar. Como mais do que deveria e cozinho menos do que gostaria. Por isso me sinto mais à vontade para escrever sobre comer do que sobre cozinhar.

E, por causa da gula, fui vítima mais uma vez da Vejinha, essa juiza que costuma endeusar mediocridades, principalmente no mundo da baixa gastronomia.

Passei uns dias no Guarujá e, como faço sempre, procurei conhecer um boteco novo em Santos. (gosto de Santos, um caso exemplar de recuperação urbanística). Fui à Vejinha Verão e lá estava: Bar do Toninho, no Embaré, "o melhor bolinho de bacalhau da Baixada Santista". Pus a mulher e as crianças no carro – que adoram bolinho, atravessei a balsa – e lá fui.

Bem, uma das meninas não conseguiu comer um inteiro, largou no meio e pediu "pai, posso comer um pastel?". E assim, aproveitei e conheci o pastel, que também não chega nem ao calcanhar de um exemplar de qualquer feira livre de São Paulo.

Das duas, duas: ou os críticos da Vejinha não entendem nada de bolinho de bacalhau, ou não experimentam o que recomendam - e neste caso não deveriam recomendar.

Quem conhece bolinho de bacalhau sabe: é bacalhau demolhado, do bom (não restos, nem do mais barato), batata cozida amassada e reduzida a purê (não confundir com purê de batata), cebola picadinha, salsinha, um pouqinho de pimenta do reino e sal se necessário, gema de ovo, clara em neve e, se vc tiver em casa e gostar, um tiquinho de vinho do porto. Só. De preferência enrolados na colher, fritos e servidos na hora.

Bem, o tal bolinho do Toninho só perde para o pastel de bacalhau do Mercadão, outra pérola falsa da Vejinha e de alguns midiáticos chefs.

Acha que estou exagerando? Vá até o Embaré quando estiver lá embaixo. Local barulhento (pecado menor para um boteco), banheiro sujo e sem papel de nenhum tipo e centenas de bolinhos, pastéis, empadas e risolis engordurados e amontoados em estufas mornas.

Única coisa que se salvou: a cerveja gelada, que não é mérito nenhum.

Ééé...a vida de quem gosta de comer não é bolinho. Muito menos do Toninho.

7 comentários:

rose disse...

A sua exigência é que não é bolinho! Claro que você deve estar comparando o bolinho do toninho com o seu, delicioso e original de Portugal.

Robson Henriques disse...

Cascão, meu velho.

Quem já experimentou seus bolinhos de bacalhau sabe que você tem envergadura gastronômica pra falar desse assunto com autoridade.

A envergadura da minha barriga que o diga.

Só de lembrar a última vez que comi começou a escorrer uma lágrima de saudade do canto da minha boca.


Beijo grande,

Robson

Cascão disse...

Ressalva: falar só da Vejinha foi uma injustiça minha. Os comentários de outros veiculos que abordam o assunto não são menos superficiais, em especial os da FSP. É só conferir.

Unknown disse...

Cascão,
No final do ano fui até a Prefeitura de São Vicente a trabalho. Na mesma calçada, do lado esquerdo da prefeitura, tem uma pastelaria do "china". Feinha como outras. Como não posso ver defunto sem chorar, entrei e pedi um pastel de palmito(lá só tem de carne, queijo e palmito). O "china" tirou um da estufa do balcão. Pensei:dancei! Mas vi que o pastel estava sequinho, com a cara boa e então:surpresa! Comi o melhor pastel da minha vida. Palmito Jurema mesmo, não pupunha ou açaí. Nota 1000. Era um pastel daqueles que eu comia quando era criança, quando achava que todas as pastelarias do mundo eram de chineses. Vale a pena conhecer e, principalmente comer. Mas não para por aí. Do lado do "china" tem uma loja para quem gosta de cozinhar, onde você encontra desde os apetrechos mais simples, até os mais sofisticados que só se vê em lojas de shopping ou nos jardins e, o melhor, com preço de loja que fica do lado da pastelaria do "china". Tudo baratinho. Vale a pena dar um pulo na Rua Frei Gaspar em São Vicente.
Abração,
Cacau

Rodrigo A. Sá Menezes disse...

Na próxima, me leve junto. Irei de graça, como provador real -- sabe como é: aquele cidadão que comia antes o que Sua Majestade comeria depois. Em cada 100 provas, uma continha veneno. Em compensação, as 99 restantes valiam o emprego(e a vida) do coitado. Saudações nada pantagruélicas do Rodrigo.

Unknown disse...

Cascão,
Acho que vocâ acabou de descobrir sua veia editorial gastronômica. Fico imaginando cada detalhe se seu "post" como se o Bar do Toninho fosse grande conhecido meu..eca!
O final até rima. Ainda bem que você não trocou e comentou que experimentou o tolinho do Boninho......kkkkk
bjs

Unknown disse...

Pai, não tem muito o que dizer, seus bolinhos são incomparáveis!! Nem precisa ir tão longe para saber disso..... Bjo