“Sr. Barack Obama,
Antes de mais nada saiba que resisti muito em lhe escrever.
Faz quase uma semana que o senhor foi eleito presidente da nação mais poderosa do mundo e eu ainda estou pensando no que isso poderá significar – para o senhor, para a dona Michelle e as meninas, para o resto dos americanos, e para nós, o resto do mundo. Não é por falta de análises ou de opiniões, pois todos os jornalistas, políticos, economistas, historiadores e filósofos, de todas as correntes, tendências e colorações, já deram o seu vaticínio sobre os novos tempos que virão. Não serão fáceis, dizem, mas está todo mundo botando a maior fé no seu taco.
Não que a sua eleição seja pouca coisa, não. Fazer o que o senhor fez é uma proeza e tanto. Mas tem uma série de dúvidas que ficam martelando aqui na minha cabeça. Algumas coisas que, sinceramente, me deixam preocupado. E que devem estar também, se não tirando o seu sono, pelo menos fazendo-o acordar no meio da noite.
Veja: o senhor foi eleito para resolver os problemas dos Estados Unidos, certo? Mas o pessoal está esperando mesmo é que resolva os problemas do mundo. É como se o senhor tivesse sido eleito presidente do planeta. Vai ter de ir lá e resolver a parada. Consertar o estrago. E qualquer coisa menos que isso, vai ser uma decepção, um fracasso, vão dizer “não falei, foram votar nesse nêgo aí achando que ele ia ser o salvador da pátria, agora aguenta...”.
Outra coisa que temos de concordar: todos esses problemas que a gente tem hoje, essa situação que aí está – como diria um bom político, não são fruto só da cabecinha ou da vontade de um presidente – mesmo essa cabecinha sendo a do Bush, certo? Portanto, a solução também não será. Precisamos ver se, passada a euforia, o pessoal vai estar preparado para pagar o preço, que o senhor sabe, é alto.
Depois, não podemos esquecer que o senhor teve apenas 52% dos votos. Os outros 46% foram para o branquelo, amigo do Bush. E, aqui entre nós, não foram os americanos que elegeram o senhor, certo? Foram os africanos, os portoriquenhos, cubanos, mexicanos – latino-americanos em geral, os iranianos, os indianos, árabes, os muçulmanos – talvez até alguns judeus. Tá bom, tá bom, os filhos e netos deles são americanos legítimos (?). Mas, essa moçada toda, até fala inglês na escola e no trabalho, mas em casa fala a língua dos avós, come a comida dos avós, preserva a história dos avós. Esses estão vibrando com a sua vitória. Mas os outros, os branquelos, estão é morrendo de ódio. Viu a cara deles quando o McCain disse “ele era meu oponente, agora é meu presidente? ” Aquele olhar estático, nenhuma reação, nem um músculo da face movido. Eu estaria mais tranquilo se tivessem xingado o McCain, vaiado o McCain, aplaudido o McCain. Mas, nada. Só silêncio...aquele olhar vazio, perdido...
Sr. Obama, temo pelo senhor e pelas meninas, eu também tenho duas quase da mesma idade das suas, e sei a preocupação que dão. Desculpe, não quero assustá-lo, mas se eu fosse o senhor contratava logo uma meia dúzia de negões – não, negões não... vão chamar o senhor de racista. Pensando bem, se forem brancões também vão chamar, então contrata os negões mesmo, pelo menos eles têm mais tempo de carteira assinada – e colocava eles dia e noite ao lado da Sra. Obama e das meninas. Ao lado, atrás e na frente, tipo sombra mesmo que dependendo da hora do dia fica num lado diferente da gente. Afinal, por melhor que seja o seu vice (aqui em Sampa tivemos uma experiência ótima com um vice) ninguém quer ver ele sentando na sua cadeira.
E, por favor, nada de revidar os séculos de escravidão e opressão mudando o nome da Casa Branca para Casa Negra ou algo parecido. Um cara esclarecido como o senhor sabe que “Casa Branca” é apenas uma maneira de falar.
Boa sorte no seu novo emprego, Sr. Obama.”
De um admirador.
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3 comentários:
http://change.gov
um ponto para Barack Obama!
A partir de Janeiro, poderemos escrever à Vossa Senhoria nossos desejos utópicos!
Fazia tempo que eu não passava por aqui.
Gostei de tudo que li.
BJS
Muito bom, agora que visitei , pretendo sempre dar umas voltinhas por aqui.
Parabéns, continue nos brindando com seus textos lúcidos e gostosos de ler.
Abraços,
Dulce
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