Todos os anos no plenilúnio de maio os membros Cafh (caminho espiritual do qual participo desde 1974 e imã que norteia o ponteiro de minha bússola pessoal – para saber mais: www.cafh.org) se reúnem em Assembléia Geral, em algum lugar do planeta. No encontro o Diretor Espiritual mundial de Cafh faz duas alocuções aos participantes, uma na abertura e outra no encerramento.
Ano passado, no encerramento, ele transmitiu uma mensagem muito interessante, que eu gostaria de dividir com você. Fala sobre a necessidade de – paralelamente aos nossos esforços para cuidar do meio ambiente exterior – prestarmos atenção ao nosso meio ambiente interior. Ali onde também há poluição, desperdício de recursos não renováveis (tempo, por exemplo) e do qual precisamos cuidar para benefício próprio e, principalmente, dos demais.
Não vou reproduzir a alocução inteira, por ser extensa. Ficarei apenas nos pontos principais que giram em torno dessa idéia. Para facilitar o entendimento de algumas expressões, introduzi algumas notas de rodapé. Apreciaria seus comentários.
Cuidemos do nosso meio ambiente interior
Extrato da palestra de José Luis Kutscherauer – Diretor Espiritual de Cafh(1), no encerramento da Assembléia Anual de Cafh, realizada em Mendoza, AR, em junho de 2007.
“Nos últimos anos tomamos consciência dos problemas que afetam o planeta e dos efeitos que nossas ações provocam na biosfera. Como conseqüência, ecologia e meio ambiente se converteram em palavras habituais. Poderíamos dizer que em apenas duas gerações se criou uma consciência global de que é nossa responsabilidade cuidar da Terra – a casa que compartilhamos. Cada vez mais aparecem os chamados de alerta sobre aquecimento global, camada de ozônio, poluição do ar e dos rios, convocando-nos a cuidar de recursos como o ar, a água, as matas, a terra, as espécies animais.
Sem dúvida, temos que estar atentos a todos esses elementos para amenizar os efeitos negativos que produzimos. Por maiores e mais complexas que pareçam as dificuldades que enfrentamos, cresce dia-a-dia o interesse e o compromisso na busca de soluções viáveis, imediatas, simples e efetivas.
Porém, como membros de Cafh, compreendemos que temos muito mais para cuidar, já que trabalhar para minimizar o impacto que produzimos no meio ambiente não encerra nossa tarefa.
Voltemos o olhar também para o nosso meio ambiente interior.
Para poder realizar a mudança que desejamos, comecemos por transformar nosso mundo interior, construindo um ambiente harmônico que nos converta em seres humanos integrais. É nesse meio interior que temos de começar a tarefa.
Dizem que cada pessoa é um mundo. E assim é: cada um de nós é um mundo, com um modo de viver próprio e que deriva de nossa condição humana e do tipo de ambiente no qual habitamos. A condição humana conforma um marco dentro do qual nos desenvolvemos. O ambiente em que vivemos – tanto interior como exterior – é a variável sobre a qual podemos atuar para conformar a biosfera espiritual que queremos que nos contenha.
Ao tomar consciência de que somos portadores de um meio ambiente interior e que este incide sobre os demais, também tomamos consciência de que temos que protegê-lo e cuidar do seu equilíbrio. Assim, compreender – entender e atuar em conseqüência – nos leva a comprometer-nos com essa biosfera interna, espiritual, vulnerável, sutil, porém fundamental para desenvolver-nos como seres humanos integrais.
Por sermos livres e termos a faculdade de escolher, podemos transformar um deserto em um vale fértil e um vale fértil em deserto, purificar o ar multiplicando bosques ou fazê-lo irrespirável desmatando-os, manter as águas claras e cristalinas ou transformá-las em um fedorento lodaçal.
A mesma coisa acontece em nosso meio ambiente interior.
Somos depositários de imensos tesouros que temos que cuidar, potencializar e repartir. Devemos perguntar-nos quais são os bens que queremos deixar como herança para a humanidade. Especialmente, devemos recordar que dentro de nós também existem recursos não renováveis pelos quais temos que responder: o uso do tempo, as energias vitais, o potencial mental e afetivo, tudo está em nossas mãos, sob nosso cuidado, para utilizar e dispor.
Pensemos, por exemplo, no ecossistema constituído por nossos pensamentos. Protejamos esta fonte de vida que é a nossa mente. Ponhamos nossa inteligência a serviço do bem comum, já que entre todos constituímos o corpo da humanidade.
Pensemos ainda no ecossistema constituído por nossos sentimentos e aspirações. Protejamos nosso meio interior para que albergue sentimentos de amor, de compaixão, de compreensão e amizade.
O estudo da ecologia nos ensina a observar as relações sistêmicas entre os indivíduos e o meio ambiente e a perceber que, para manter o equilíbrio, é indispensável a interdependência, já que cada parte ocupa o lugar que lhe corresponde e realiza uma função determinada, contribuindo para o equilíbrio do todo maior.
Necessitamos dar espaço a esta atitude – de interdependência – para que conscientemente unidos cumpramos a nossa missão na Grande Obra (2).
Através de um processo de desenvolvimento da consciência, descobrimos a estreita inter-relação entre todo o existente. Por que, então, na prática atuamos muitas vezes como se vivêssemos de forma autônoma? Pode ser que temamos o poder coercitivo de quem quer impor-se ou submeter-nos. Pode ser que temamos que o viver em função do todo anule a nossa individualidade.
Seja como for, compreendamos que não podemos deixar de pertencer ao todo, porque somos parte integrante dele. O individualismo segrega, porque é contrario à lei da vida que conduz para a integração, para a união. Em nossa ignorância, o que tentamos fazer é negar-nos esse pertencer ao todo.
Na interdependência não há imposição e ninguém deixa de ser o que é. Cada um é um individuo que não se repete, único. Quando se revela aos nossos olhos nossa realidade egoente (3), deixamos de lado temores e dúvidas, nossos esforços individuais se reforçam e, multiplicados, transformam-se em fonte de bem e adiantamento para a humanidade.
A plenitude e harmonia entre os seres humanos se dão como resultado de um processo de amadurecimento espiritual e se manifestam em discernimento, participação e ousadia para empreender a ação necessária.
Quando descobrimos os vínculos que nos unem aos nossos semelhantes, à natureza, ao meio ambiente e a todo o universo, não podemos deixar de viver com um sentido de reverência que impregna toda nossa vida. De maneira natural, aprendemos a respeitar a individualidade de outros, porque respeitamos nossa própria individualidade. Os recursos interiores com que contamos são um dom que recebemos para levar a cabo a finalidade última da vida: a união com a Divina Mãe (4). O uso sábio e prudente destes recursos gera harmonia e paz em nosso meio ambiente interior e, em conseqüência, no entorno. A aceitação da interdependência como uma atitude essencial para viver já não é uma imposição, senão o resultado de um processo de expansão da consciência.”
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(1) Cafh – A palavra Cafh tem raízes antigas. Para os membros de Cafh, simboliza o esforço da alma para alcançar a união com Deus. Ao mesmo tempo representa a presença do divino em cada ser.
(2) A Grande Obra – Os Ensinamentos de Cafh chamam Grande Obra ao conjunto de obras materiais, intelectuais e espirituais que nós seres humanos efetuamos para realizar nosso destino, de acordo com o Plano de Evolução Universal.
(3) Egoente – Ser egoente é ser consciente de si e de nossa relação com o todo, e discernir a forma de responder à responsabilidade que implica esta consciência.
(4) Divina Mãe – Os membros de Cafh reverenciam a Deus na imagem feminina da Divina Mãe.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
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