domingo, 1 de junho de 2014

OS LOBOS E AS UVAS.

Adoro lobos. Elegantes, imponentes, misteriosos. Fizeram parte da minha infância e povoaram minha imaginação de criança. Tínhamos uma pequena vinha em Chacim, aldeia onde nasci ao norte de Portugal, onde cultivávamos uvas para fazer o vinho que abastecia a adega de uma taberna que minha família mantinha nos baixos da nossa casa assobradada. Um pouco antes da vindima (colheita das uvas para se fazer o vinho) os lobos – que pra quem não sabe adoram uvas, como as raposas – invadiam a vinha e acabavam com a produção.

Para evitar o estrago, tão logo as uvas começavam a amadurecer, armávamos uma barraca no meio da vinha e passávamos noites e noites lá, devidamente equipados com algumas espingardas. Quando ouvíamos um lobo se aproximando, disparávamos dois ou três tiros para o ar, o suficiente para espantá-los por algumas horas. Nos revezávamos eu, meu irmão e meu pai. Sempre em dupla. Enquanto um dormia, o outro ficava de tocaia. Geralmente, depois dos tiros, a gente trocava de posição, até à próxima investida dos lobos. De manhãzinha retornávamos para casa. Não sem antes colher um cacho pra ir comendo pelo caminho. Tive uma infância maravilhosa, quase inacreditável...



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