quinta-feira, 16 de junho de 2022

ETARISMO, AGEÍSMO OU IDADISMO: TODOS PERDEM COM O PRECONCEITO POR IDADE.


Navegando pela internet, descobri que junho é o mês “violeta” da Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, sendo o dia 15, o dia mundial dedicado ao tema. São inúmeras as violências praticadas contra as pessoas idosas, mas quero me concentrar na que é praticada pelo mundo corporativo quando descarta qualquer profissional pelo simples fato de ter mais de 50 ou 60 anos.
Mas, antes de entrar no tema propriamente dito, permitam-me fazer um pequeno relato. Entre 2009 e 2018, portanto dos meus 52 aos 60 anos, fui diretor de criação em duas agências de publicidade em São Paulo, Brasil. Era comum termos de atravessar uma ou outra noite em claro para terminar a tempo a entrega de uma campanha. Eu liderava uma equipe de comprometidos redatores e diretores de arte que entendiam a necessidade de esticarmos a jornada de trabalho. No entanto, era comum também que ali por volta da meia-noite um ou dois fiéis escudeiros, com pouco mais do que a metade da minha idade, já cochilando sobre o teclado do mac jogassem a toalha e me pedissem para deixa-los ir para casa, porque o corpo não respondia mais aos seus comandos. Sem muita opção, eu seguia com os sobreviventes até terminar o job e, muitas vezes ia para casa somente quando os primeiros raios de sol estavam a entrar pela janela, tomava um banho, um red bull, uma xícara dupla de café e duas ou três horas depois estava a apresentar o trabalho para o cliente.
Não estou querendo, com isso, gabar-me de nada. Há pessoas cansadas em qualquer fase da vida. O que quero dizer é que a idade não deveria ser requisito nem para contratar nem para descartar um profissional. Em maio último fiz 65 anos. Continuo a trabalhar com aquilo que gosto de fazer e, embora atue como freelancer, ainda me pego acordado à uma ou duas da manhã fazendo ajustes em projetos que serão entregues no dia seguinte pela manhã. Sinto-me hoje tão ou mais entusiasmado e comprometido com os desafios de um briefing como me sentia aos 25 ou 30. Com uma diferença: tenho mais experiência, o que permite, entre outras coisas, abreviar soluções, agilizar entregas e aumentar o índice de acerto. Mas as empresas e as consultorias de RH somente agora estão a acordar para essa realidade e a perceber o quando todos estamos perdendo.
O etarismo, também conhecido como ageísmo ou idadismo talvez seja, de todos os preconceitos, o mais invisível e o único que ainda não ganhou o destaque que merece, nem nos media, nem nas consultorias de recursos humanos e nem nas empresas. Nas agências de propaganda então, a realidade é mais cruel: qualquer 40+ é considerado um dinossauro.
É bom lembrar que o etarismo atinge também os mais jovens, nomeadamente os que estão na casa dos 20 anos. Enquanto os 50/60+ são descartados como se tivessem a sua data de validade vencida, os 20- são igualmente descartados porque ainda não estão maduros o suficiente para ocupar um lugar nas prateleiras do mercado. Por um lado, não permitimos aos mais jovens aprender. E, por outro, não permitimos aos mais velhos nem compartilhar o que sabem nem descobrir o que ainda precisam aprender. É como se a produtividade de uma pessoa tivesse de ser 100% extraída nos 15 anos compreendidos entre os 30 e os 45 e depois disso o que sobrasse fosse apenas bagaço. O que está, obviamente, longe de ser verdade. O etarismo é, além de postura preconceituosa que precisa ser mudada, uma forma pouco inteligente de otimizar os recursos humanos.