quarta-feira, 15 de agosto de 2018

TROCANDO O WAZE PELO MOOVIT



Tempos atrás pensei em fazer uma experiência: em vez de mudar de carro, mudar de atitude e tentar viver sem ele. Somei todos prós e contras, as multas, as despesas com documentação e uma revisão completa, incluindo alguns itens estéticos para o comprador não ficar pondo defeito na hora de negociar o preço. Quando vi o tamanho da conta, se eu ainda tinha alguma dúvida em me livrar do carro, ela terminou aí. Felizmente o que recebi deu para pagar tudo e ainda sobrou um troco, não mais do que o suficiente para um jantar a dois. De comemoração.

Quando eu fiz dezoito anos – e com todos os amigos da aminha idade não foi diferente – o grande sonho de consumo era comprar um carro. Ou ganhar um, para os filhos de pais mais abastados, o que não era meu caso. Hoje o carro ocupa o 7º ou 8º lugar na lista de desejos de uma boa parte dos jovens. Muitos sequer tiram a carta de motorista, para desespero das montadoras.

Ao trocar de atitude troquei a preocupação com as multas, o ipva, o seguro, as revisões, o preço da gasolina, o estresse de achar uma vaga para estacionar e a revolta com o preço extorsivo dos estacionamentos, por um bilhete único. E pela tranquilidade de conferir e-mails, responder o wattsapp e usar o google sem o risco de causar um acidente. Confesso que atualmente ao ver um congestionamento, chego a sentir um certo calafrio e uma angústia misturada com compaixão pelo sofrimento alheio.

Claro que andar de ônibus e metrô numa cidade que está longe de ter um sistema de transporte púbico 100% eficiente, e muito menos suficiente, também tem seus perrengues: alguns motoristas dirigindo de maneira irresponsável, cobradores mal humorados e cuja função cada dia se justifica menos, passageiros que ainda não atingiram um nível mínimo de civilidade e por aí vai. Por outro lado, uma sensação incrível e coisa impensável no passado, é saber a hora exata em que o próximo ônibus vai passar, enquanto você come a última torrada com geleia no café. Isso graças a uma das sete maravilhas da tecnologia, chamada Moovit (o Waze de quem anda a pé, de ônibus ou bicicleta). Que ainda te avisa, online, quantos pontos você tem pela frente, quanto tempo vai gastar no trajeto, a hora exata de descer e por quantos minutos terá de caminhar até seu destino final. Sem falar que durante três horas você pega quantos coletivos precisar pagando apenas o valor (alto, diga-se) de uma passagem. Meu recorde até agora foram um metrô e três ônibus em menos de duas horas, numa viagem até o bairro dos Pimentas em Guarulhos. O terceiro ônibus eu peguei em plena via Dutra...aventura e tanto.

Claro que vendo a minha condição de um “sem carro” toda hora os amigos perguntam: mas você nunca mais precisou de um carro depois que se desfez do seu? Claro que precisei. E felizmente tem um monte deles à minha disposição sempre que necessário: os das locadoras (frequentemente mais baratos do que as passagens de ônibus interestaduais, principalmente quando se viaja em família), os da Uber, 99 ou Cabify e até os dos amigos quando gentilmente me oferecem uma carona. Preciso confessar também que em trajetos mais curtos e tranquilos, em dias sem chuva, também conto com minha fiel companheira, uma Suzuki Burgman.

Sei que ficar sem carro não é viável para algumas pessoas, por diferentes razões. Mas, para uma grande parte de nós, garanto que existe vida depois do automóvel. E que pode ser, além de tudo, uma experiência libertadora.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Eu adoro essa garota!

Em 2017 por esta época, minha mulher achou que ainda era uma menina (e eu acho que sempre vai ser mesmo, é uma de suas virtudes) e resolveu fazer um intercâmbio na Inglaterra, mais exatamente em Oxford, durante uma temporada em que aproveitaria para dar uma garibada no inglês. Bem...sempre nos apoiamos mutuamente, por mais louca que seja a vibe. E desta vez não foi diferente, quem era eu para segurar um dos seus sonhos acalentado durante décadas. Foi enriquecedor pra pra ela e pra nós que ficamos, eu e minha filha caçula. Um dos seus relatos enquanto estava lá, segue abaixo. Emocionei quando li na época, e me emociono sempre que releio. É por essas e outras que eu amo essa garota!



30 dias. Estou com saudades de casa.
A vida em outro país nao é nada fácil. Nao só pelo idioma mas porque o silencio faz eco na gente. Por mais desejada que tenha sido esta viagem, ela estava congelada na minha memoria desde quando eu tinha 15 anos. Agora, aos 49, tudo é diferente.
Tem sido um aprendizado, tem sido um desafio, tem sido apavorante, tem sido enriquecedor e surpreendente. 'E duro contar o dinheiro todos os dias e nao poder fazer as coisas com mais tranquilidade. E duro saber-se a mais velha de todas as classes aonde se entra. Tem sido duro ter poucas palavras para expressar tudo o que eu realmente quero dizer numa conversa.
Tem sido dificil esquecer o que eu acumulei de conhecimento pra me descobrir vazia e abrir espaço pra aprender tudo de novo.
Eu estou adorando a experiencia, mas tem horas que dá um desanimo, parece que nao há progresso nas aulas, parece que nao estou me dedicando, parece que a estrada é mais longa do que imaginava, parece que nao ha acostamento pro descanso, mas acho que isso também faz parte do processo de aprendizado.
Já chorei, já segurei o choro, já quis voltar e desistir, ja quis estender a estadia e mudar de pais, ja quis e nao quis muitas coisas ao mesmo tempo. Daí durmo, acordo, medito, faço minhas oraçoes e saio pra enfrentar a vida, o dia, a aula e a mim mesma novamente.
Acho que estou feliz, mas de um jeito meio nostálgico. Como se estivesse resgatando aos poucos aquela moça que eu fui e que achava que conquistaria o mundo. As circunstancias nao me deixam esquecer dos meus sonhos de menina, me levando sempre ao passado quando ligo a TV, por exemplo, e está passando Terra de Gigantes, os Waltons e hoje, Cimarron!!!
Bem, estou aqui num país de reis e rainhas, seguindo a cada dia como um Arthur, tentando liberar minha espada da pedra e contando que meus Cavaleiros da Távola Redonda no Brasil estejam me esperando com o mesmo amor de sempre. Porque o amor é o principio e o fim de todo caminho.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

A fruta não cai longe do pé.

Agora é a vez dela...Depois de embarcar 3 filhas para o mundo, chegou a hora dela ir atrás de um sonho antigo e necessário. Depois de metade da vida e de uma carreira consolidada, diversos prêmios e conquistas profissionais e uma vida pessoal igualmente exemplar, ela escolheu fazer intercâmbio. Escolheu para aprimorar o inglês. Não que este fosse ruim, mas ela sabe que estava longe do limite e que hoje em dia qualquer situação exige. Escolheu porque tem vontade de aprender e porque sabe que pode crescer ainda mais. E sua escolha se consolidou porque ela tem na família pessoas que a amam e que a apoiaram em todas as etapas desse processo. Por um marido fiel e compreensivo e por filhas que, justamente por já terem vivido esse momento, sabem o quão importante ele é.
Ela, que começou a trabalhar aos 15 anos, que vem consolidando sua carreira desde cedo e de um jeito extremamente eficaz. Ela, que dorme 4 horas por dia, às vezes não come direito, que passa alguns perrengues mas sempre entrega resultado. 
Ela, que já viajou o mundo, não importa se por lazer ou para trabalhar. Ela, que mistura espanhol, inglês, português, alemão, francês e italiano, criando uma língua nova que só ela e os companheiros de viagem entendem, mas que tem um sotaque incrivelmente gostoso.

Ela, que tem o melhor carinho, as melhores mãos, que escreve maravilhosamente bem e que nunca deixou faltar nada pra ninguém.

Ela, que faz combinações peculiares, que gosta de salto grosso e adora animações infantis. Ela que gosta de assistir futebol no bar às quartas-feiras, mas não dispensa um bom vinho num bistrô.

Ela, que organiza eventos, ama festas e multidões, mas sente um prazer enorme em estar consigo mesmo, lendo seu livro na beira da piscina.

Ela, que já foi filha e é dona de casa, esposa, mãe, jornalista, escritora, viajante e mais tantas outras coisas, hoje é intercambista. E das boas. Daquela que estuda, se dedica, vai até onde achamos que não dá. Daquelas que escolheu família com crianças para treinar ainda mais a conversação e que sabe que alguns meses serão pouca coisa perto do objetivo maior dessa aventura.

Pra ela, eu digo hoje tudo o que ouvimos quando foi a nossa vez: Nem sempre as coisas são como queremos. Às vezes o chuveiro não esquenta, a comida não é a nossa preferida e as pessoas não são tão calorosas como estamos acostumados. Às vezes o salto quebra a caminho de uma reunião importante e o cachorro rasga nossa meia calça minutos antes de sairmos de casa. Às vezes chove e estamos sem guarda chuva, o trânsito nos faz cancelar compromissos e nós não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Por isso, viva o hoje. Viva em inglês, viva nas aulas, em casa, viva em cada monumento que passar, cada paisagem famosa ou viva dentro de um simples e encantador ônibusinho vermelho. Viva suas conquistas, por menores que elas sejam. Viva!

Ela, que sempre fez de tudo por nós, hoje faz por ela.
E que esse seja só o primeiro passo.
EU TE AMO!


(Texto escrito por minha filha Sofia Almeida Cascão Costa, em junho de 2017, quando a mãe embarcou para mais uma de suas sadias loucuras. Porque aqui em casa todo mundo gosta de dizer o que sente, escrevendo!) 
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